Reproduzimos manifesto divulgado na página da ASDUERJ.

Por um gesto de grandeza!

Ana Chrystina Venancio Mignot

Não me esqueço da primeira vez que entrei na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ainda morava em Campos e estava ali para participar de um Seminário de Filosofia da Educação, se não me engano, promovido pela UERJ em parceria com a Secretaria de Estado de Educação e Cultura, que se realizou num amplo auditório, com cadeiras de acrílico coloridas, circuito de televisão, quadros-negros e telas de projeção imensas. Em meio a muitos professores do ensino médio estadual, me sentia num palácio. Já havia incorporado a cultura da pobreza da escola pública e tudo aquilo me deslumbrou.

Não imaginava que, alguns anos depois, ingressaria naquela Universidade, na qualidade de professora. O palácio visto por dentro, não era tão belo. O deslumbramento deu lugar a muitos sentimentos de impotência e de desânimo. A UERJ, em 1985, era decepcionante. Não passava de um escolão. O salário era tão desvalorizado, que o contrato inicial de dez horas, era muito inferior ao da rede pública estadual.

Os professores eram auleiros, a pesquisa era praticamente inexistente, a importância da pós-graduação não se colocava como uma questão crucial para o desenvolvimento científico, o ensino e a extensão.

Pouco tempo passou e, em 1986/7, o governo Brizola deixou assinado para o governo seguinte implantar um plano de carreira muito eficiente, forjado na luta docente. Às medidas de aumento salarial, o Reitor Ivo Barbieri, e os demais que o sucederam, souberam dar conseqüência porque tinham clareza da importância social daquela instituição. Investiram no incremento da qualificação docente, no recrutamento de quadros através de concursos cada vez mais competitivos e transparentes, em programas de dedicação exclusiva via bolsas para pesquisadores e na valorização e ampliação da pós-graduação. Tais políticas possibilitaram à UERJ atrair jovens e renomados doutores de muitas instituições o que permitiu colocá-la em lugar de destaque no cenário acadêmico nacional e internacional.

Passados alguns anos, nenhum auditório dos doze andares do prédio principal conseguirá provocar, em qualquer visitante, a mesma emoção que tive quando ali entrei pela primeira vez. Tudo está quebrado ou defasado. Vista por olhos de quem está dentro, no entanto, a UERJ cresceu avassaladoramente não apenas em número de alunos, mas em qualidade de ensino, o que é verificável a cada avaliação que coloca nossos cursos entre os melhores do país, em serviços à comunidade, em reconhecimento pela sociedade.

Lamentavelmente, estamos em greve há mais de 70 dias, lutando por salários dignos e melhores condições de trabalho. Não se tem reajuste desde 2001. O magistério na UERJ que tinha se tornado atraente para a comunidade científica, transformou-se para muitos em opção profissional sem perspectiva e sem esperança. A corrosão dos salários põe em risco as políticas arduamente implementadas e é, cada vez mais, provável que se perca quadros altamente qualificados por razões de sobrevivência financeira e acadêmica.

Torno público o meu apelo para que a Governadora Rosinha Matheus receba uma comissão de professores e servidores e instaure um diálogo profícuo que assegure à Universidade do Estado do Rio de Janeiro, patrimônio do povo carioca e fluminense, continuar sendo uma referência para o ensino superior no país. O diálogo é a única forma de não se perder anos de construção de uma universidade pública e de investir numa educação de qualidade para as novas gerações, este sim, verdadeiro motivo de orgulho para todos e bandeira que deve unificar aqueles que têm responsabilidade com o futuro. Aguardo apenas por uma demonstração de boa vontade, por uma audiência que nunca foi negada por nenhum governante.

Espero por um gesto de grandeza.

Ana Chrystina Mignot é professora da Faculdade de Educação – UERJ